sábado, 9 de janeiro de 2010

Oração da Paz que foi atribuida a São Francisco de Assis.

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

A oração acima é a versão em lingua portuguesa da conhecida popularmente como a Oração da Paz ou Oração de São Francisco. Recentemente um estudo feito por C. Renoux um histórico frances nos revela que a referida oração não é tão antiga como se pensava. Procurando nas familias de manuscritos autenticos de São Francisco essa oração não aparece que são quatro familias: o códice 338 de Assis, a compilação de Avinhon, o grupo da Porciuncula e o grupo do Norte ou provincia de Colonia e existem coleções conservadas em codices do século XIV ou XV das quais é dificil atribuir aos grupos acima mencionados. A publicação mais antiga que ainda não é edição crítica a Editio princeps de Luca Wadding, frade menor recoleto irlandes que aparece em 1623, nela se recolhe vários escritos de São Francisco, bem como homilias, orações, e outros generos não do santo, mas sobre, é uma grande obra composta de 3 volumes intitulada: Beati Patris Francisci Assisiatis opuscula: Nunc primum collecta. Mas a nossa oração da paz não está contida nessa primeira edição dos escritos como também não encontramos nenhum manuscristo antigo. Por isso, consideramos o bastante para descartar que a afirmação que a oração tenha saido da pena do Francisco histórico.
A primeira notícia que temos dessa oração é numa revista chamada La Clochette, que do grupo “Liga da Santa Missa”, sob a direção do Padre Esther Auguste Bouquerel publicada no mês de dezembro de 1912 em Paris, França com o título: “Belle prière à faire pendant la Messe”, cujo texto frances está em nota de pé de página. Essa Liga da Santa Missa tinha como objetivo levar para a Igreja aqueles que não frequentavam, tem uma finalidade de aumentar a devoção, com um impegno de apostolado, mesmo no sentido de uma cruzada. No ano de 1912 nesse jornal que era o boletim informativo da Liga da Santa Missa é publicada a bela oração para recitar durante a missa, sem autor e nem mesmo as iniciais, mas essa não é a unica oração publicada nesse jornal priva de assinatura ou nome do autor outras poesias e orações foram publicadas assim.
O Padre Bouquerel pode ser o possivel autor dessa oração visto que ele redigia sozinho esse jornal e escrevia artigos para diversos outros, escreveu peças de teatro e tantas outras coisas com esse desejo de promover a devoção e impenho eucaristico. A partir de 1914 o jornal se mobiliza para promover ações em favor da paz, promovendo e motivando orações pela paz. O jornal publica matérias com o título como “ A missa e a guerrra” . Em 1918 o Papa Bento XV pede que todos os sacerdotes rezem a missa pelo r etorno da verdadeira fraternidade entre os povos.
No ano de 1915 Stanilas de la Rochethulon encarrega Emanuel Portal de transmitir ao Cardeal Gasparri várias orações pela paz para o Santo Padre por ocasião do ano novo, dizem que o Papa agradeceu e gostou principalmente da oração ao Sagrado Coração de Jesus. Eleito em tempos de guerra Bento XV não fes outra coisa que se empenhar pela paz tanto que a sua primeira enciclica Ad beatissimi Apostolorum, onde convida todos a rezar pela paz . Por motivos politicos o governa Franca proibi e confisca os folhetos com as orações nas saidas das Igrejas e todos os boletins que reproduziam as orações eram proibidos na repartições publicas.
As orações que são apresentadas ao Papa a nossa oração simples com o nome de invocação ao Sagrado Coração é encaminhada ao l’Osservatore Romano e publicada como sendo do Souvenir Normand em janeiro de 1916 foi divulgada em italiano, no mesmo ano o texto foi traduzido outra vez para o frances pelo jornal la Croix , e divulgado novamente. Ainda no 1916 Monsenhor Alexandre Pons pede permissão ao Papa para divulga-la. No ano de 1920, o padre capuchinho Etienne Benoit, assistente da Ordem Terceira de São Francisco de Reims, pega esse texto e manda imprimir no verso de uma imagem de São Franscisco mudando o títula para Oração pela paz., mas até então a oração não está associada como escrito de Francisco. O texto com poucas modificas é divulgado no meio protestante dessa época por J. Rambaud e E. Bach, com o título: Uma bela oração, em seguida se torna a oração oficial dos Cavaleiros da Paz que são os primeiros a atribui-la a São Francisco Em 1023 nasce a Ordem Terceira de Veilleurs, uma espécie de Ordem Terceira inspirada a São Francisco de Assis dentro do protestatismo fundada pelo pastor Wilfred Monod.
Pouco a pouco essa oração percorreu o mundo virando letra de música e se popularizando entre católicos e protestantes e foi rezada por várias pessoas famosas: pelo Papa João Paulo II, no primeiro encontro internacional pela paz , em 1986. , e inclusive parece que foi lido na cerimónia da fundação da ONU em 1945.A beata Madre Teresa de Calcutá rezava todos os dias, inclusive aparece no seu livro de oração, nas orações matutinas e ensinava aos seus colaboradores. O arcebispo de Recife, o brasileiro Dom Hélder Câmara se inspira nessa oração e faz inserir nos seus escritos . O presidente americano Bill Clinton quando em 1995 acolhe o Papa João Paulo segundo fala de São Francisco e faz menção a essa oração. Pelo bispo anglicano no Sul da Africa Desmond Tutu, que é membro de uma associação anglicana muito semelhante a OFS.
Alguns como Padre Willibrord Christian van Dijk, afirmam que essa oração não poderia ser de São Francisco pelo modo como está composta que não expressa um cristocentrismo, não explicita o nome de Jesus nem uma vez, outros porque nas orações autenticas de Francisco não tem pedidos, sempre louvores.Ainda que os textos de Francisco estão permeados de citaçoes das Sagradas Escrituras coisa que essa não contém.
Dois autores dedicaram um livro inteiro a comentar essa oração, seja L. Boff, que Kent Nerburn escreveram ambos um comento sobre essa oração que foram publicados no ano de 1999. Ambos teólogos declaram que a oração é de caráter de universalidade e de atualidade, pois a paz é uma necessidade para os nossos dias.
Para o senso teológico L. Boff porém nos chama atenção para o início da oração inicia com a palavra SENHOR que é o título de respeito que no cristianismo é reservado somente a Deus sendo uma tradução do grego Kyrios, um dos títulos atribuidos pelos cristãos somente a Jesus. Se por um momento analisamos a Oração diante do Crucifixo que está entre as orações compostas por São Francisco, ele está pedindo ao Senhor que o ajude a fazer a Sua vontade, mas ainda sim é um pedido, e podemos notar que aparecem as virtudes teologais, fé, esperança e caridade, tem a contraposição iluminar/trevas: “Sumo, glorioso Deus, Ilumina as trevas do meu coração e dá-me fé direita, esperança certa e caridade perfeita, (bom) senso e conhecimento, Senhor, para que faça teu santo e verdadeiro mandamento.”
No seu livro L. Boff faz uma bela reflexão sobre o sentido de cada palavra colocada nessa oração: paz, amor, perdão, união, fé, verdade, esperança, luz etc. Estabelece uma relação entra a oração pela paz e a consgração ao Coração de Jesus do Papa Leão XIII no 1899. Para a que ele chama de segunda parte busca a fundamentação de cada detalhe dessa oração nos textos do Evangelho como: “Dai, e ser-vos-á dado”(Lc6,38) “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados” (Lc 6,37), “Qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á”(Lc 17,33), “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” (Jo12,25) e para a terceira parte que seria a conclusão encontra sustento na Admoestações de São Francisco apresenta as virtudes em contraposição aos viciosno seguinte modo : onde tem valor positivo “virtude” não tem valor negativo “vício”. Na Admoestação 27, lemos o mesmo esquema da oração pela paz : “ 1 Onde há caridade e sabedoria, aí não há temor nem ignorância. 2 Onde há paciência e humildade, aí não há ira nem perturbação. 3 Onde há pobreza com alegria, aí não há cobiça nem avareza. 4 Onde há quietude e meditação, aí não há solicitude nem distração. 5 Onde há temor do Senhor guardando a porta, aí o inimigo não acha jeito de entrar. 6 Onde há misericórdia e discrição, aí não há superficialidade nem endurecimento”
Não afirmamos que o autor da oração a tenha composto olhando as Admoestações de São Francisco, mas colocando os textos próximos tem alguma prossimidade. L. Boff nos diz que orações profundas como está tem como autor o Espírito Santo e refletem uma dimensão de universalidade. Por isso, a oração simples e profunda encontra ressonancia no ser humano em todas as partes do mundo e ainda que não tenha saido da caneta de São Francisco de qualquer modo Francisco de Assis e a sua espiritualidade contribuiram para que essa oração existisse e podemos entende-lo como Pai Espiritual dessa oração ou do autor desconhecido que a compos. Fazendo um paralelo, encontramos caso semelhante com o magnifica é conhecido de todos como um canto mariano. Sabemos que não foi Maria que o compos, mas foi colocado na sua boca no Evangelho e não tem quem diga que não expressa a profunda espiritualidade mariana.

Um comentário:

A Arte da Mila... disse...

Boa noite Frei Emerson,obrigado por ver meu blog,eu adoro esta oração de SÃO FRANCISCO DE ASSIS. Assim como outras que sei,,,eu gosto muito de conversar com JESUS ...Pois ele é a minha força e eu estou viva graças a a ele que me dá forças para a caminhada da minha vida....Fique bem paz e lu na sua vida.Mila!